A história do café: da Etiópia ao mundo

Poucas bebidas atravessaram séculos, continentes e culturas com tanta força quanto o café. Hoje, ele está presente em quase todos os países do mundo, consumido em diferentes formas: do expresso italiano ao coado brasileiro, do café turco ao cappuccino. Mas sua origem é antiga e cheia de lendas, transformações econômicas e disputas coloniais.
As origens lendárias na Etiópia
A história do café começa na Etiópia, por volta do século IX. Segundo a lenda, um pastor chamado Kaldi notou que suas cabras ficavam agitadas e cheias de energia depois de mastigar frutos vermelhos de um arbusto. Intrigado, ele levou as frutas a monges locais, que começaram a utilizá-las para preparar uma infusão capaz de mantê-los acordados durante longas orações noturnas.
Essa tradição se espalhou para a Península Arábica, onde o café começou a ser cultivado e comercializado de forma sistemática.
O café no mundo árabe
No Iêmen, no século XV, surgiram as primeiras plantações e o hábito de preparar a bebida torrando e moendo os grãos. A cidade portuária de Moca (Mocha), no Iêmen, tornou-se famosa como centro de exportação — a ponto de dar origem ao nome do café “mocha”.
Foi também no mundo árabe que apareceram os primeiros cafés públicos, chamados de qahveh khaneh, que se espalharam rapidamente por cidades como Meca, Cairo, Bagdá e Istambul. Esses espaços não eram apenas para beber café, mas para debater política, ouvir música e trocar ideias. Por isso, o café ganhou o apelido de “vinho do Islã”, já que o álcool era proibido.
A chegada à Europa
O café chegou à Europa no século XVII, causando curiosidade e desconfiança. Em Veneza, comerciantes trouxeram a bebida do Oriente, e rapidamente ela se espalhou para Inglaterra, França, Alemanha e Holanda.
Inicialmente visto como exótico e até perigoso, o café logo conquistou intelectuais e comerciantes. Cafés começaram a surgir em grandes cidades europeias, como o Café Procope em Paris e o Lloyd’s Coffee House em Londres, que se tornaram pontos de encontro de artistas, filósofos e homens de negócios.
Não demorou para que o café fosse associado à Ilustração e ao surgimento de novas ideias, já que substituiu o consumo excessivo de cerveja e vinho no café da manhã europeu, mantendo as pessoas mais alertas e produtivas.
O café nas Américas e no Brasil
Com a expansão colonial, as potências europeias levaram mudas de café para o Novo Mundo. No Caribe, em Cuba e no Haiti, e depois no Brasil, o café se transformou em uma das principais commodities agrícolas do planeta.
No Brasil, o cultivo começou no século XVIII e se expandiu rapidamente no século XIX, tornando o país o maior produtor mundial — título que mantém até hoje. A economia cafeeira foi tão importante que moldou cidades, incentivou a chegada de imigrantes e até influenciou a política, com a chamada “República do Café com Leite”, que alternava o poder entre São Paulo e Minas Gerais.
O café no século XX e XXI
Ao longo do século XX, o café se popularizou em todas as camadas sociais. As cafeterias se multiplicaram e novos métodos de preparo surgiram, como o expresso, o cappuccino e, mais recentemente, a chamada “terceira onda do café”, que valoriza grãos especiais, origem controlada e métodos artesanais de preparo.
Hoje, o café é a segunda mercadoria mais negociada do mundo, atrás apenas do petróleo, e mais de 2,25 bilhões de xícaras são consumidas diariamente.
Curiosidades sobre o café
– O termo “café” vem do árabe qahwa, que significava originalmente “vinho”.
– O primeiro café da Europa abriu em Veneza em 1645.
– O Brasil já respondeu por mais de 80% da produção mundial de café no início do século XX.
– A Starbucks, fundada em 1971, foi um dos marcos da globalização do café como experiência cultural e não apenas como bebida.
Conclusão
A história do café é também a história da humanidade: uma bebida que nasceu de um arbusto etíope, passou pelos souks árabes, inspirou filósofos europeus, sustentou a economia brasileira e hoje é sinônimo de conexão global.
Mais do que cafeína, o café representa encontros, rituais e culturas que se misturam ao longo de mais de mil anos.
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